quarta-feira, 21 de abril de 2010

Vini e a mochila permeável

Verão, final de tarde. Depois de um dia absurdamente quente o tempo fechou e, do nada, começou a chover. E lá estava eu, localizado exatamente entre esse céu fechado e o chão, o que me colocava no caminho das diversas, intensas e por último, mas não menos importantes, molhadas gotas de chuva. Mas por causa daquele calor pensei que me molhar um pouco até que poderia ser divertido e, além do mais, dentro da minha mochila – que quando comprei me prometeram que aguentava até duas horas de chuva - havia duas mudas de roupa, uma pra sair a noite e outra para o dia seguinte. Continuei andando e curtindo a ducha natural. Chego ensopado na casa do meu amigo, tomo um banho e, na hora em que vou me trocar, percebo que as promessas sobre os predicados da mochila não eram verdadeiras: quando fui ver minhas roupas, estavam prontas para serem colocadas no varal

Lógico que esse meu caso de desrespeito ao consumidor não é mais grave do que o de uma certa mulher, que sofreu muito com os atrasos dos trens da CPTM. Chega a ser revoltante expor essa trágica história, mas a pobre moça, que havia sido sequestrada e amarrada aos trilhos, ficou lá esperando o trem passar por tanto tempo que morreu de fome antes que pudesse ser atropelada

Tampouco meu drama supera o triste destino da mulher que achou que finalmente a sorte havia sorrido para ela quando foi escolhida num desses programas que derrubam a casa e constroem uma nova. Ficou tão feliz que não conseguiu conter as lágrimas. Porém, infelizmente o programa foi cancelado devido a baixa audiência e eles acabaram parando o projeto pela metade. Pra ser mais exato, logo após a casa ter sido demolida.

E para finalizar, a triste história da garota de programa que investiu seus últimos centavos na confecção de de adesivos, para serem colados nos orelhões da cidade, e não percebeu que a gráfica havia errado seu telefone. O que resultou nos diversos telefonemas que a senhora Maria da Conceição (uma mulher católica, 67 anos, que nunca se casou e que teve como contato mais próximo com sexo quando olhou para a casa da vizinha e percebeu que o filho dela tinha esquecido a janela aberta, quando deveria ter trancado) recebeu pedindo desconto após a segunda hora e de interessados no oral intenso até o fim. E enquanto a dona Maria da Conceição recebia dezenas de propostas, a pobre garota de programa não conseguia um mísero trabalho e foi obrigada a vender mochilas na loja que eu comprei a minha.

Tanta desgraça reunida me faz pensar sobre o que eu passei não ter sido tão grave assim, mas quem consegue ficar conformado quando não se tem tempo de voltar pra casa e pegar uma outra roupa e nem pode deixar de ir na festa do amigo, que é octa campeão mundial em chantagens emocionais, e é obrigado a sair com roupas dois números maiores?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vini in the Wonderland

Eu ria, nossa, como eu ria! Sem motivo nenhum, talvez até mesmo um episódio das Visões de Raven me fizesse rir. Visto por um olhar sóbrio, isso tudo pode parecer constrangedor, mas como todos naquela casa estavam do mesmo jeito, eu não tinha do que me envergonhar.

Apesar dos pesares, tudo corria bem mas, como nessas situações o risco de shit happens é sempre iminente, algo horrivel aconteceu. Alguém decidiu colocar música, e como o acervo de CDs não era dos mais ricos, colocaram um da Beyonce e resolveram fazer um campeonato de imitação da coreografia de "Single Ladies". Fiquei só observando. Eu não gosto de Beyonce. É fato que quando eu discotecava, eu sempre tocava a versão que o Snow Patrol (quando Snow Patrol era legal) fez pra "Crazy in Love", e também fui até o chão no show do Magic Numbers quando eles fizeram esse cover. Mas isso não significa que algum dia eu gostei de Beyonce, no geral eu só não me incomodava em ouvir uma vez ou outra. O grande problema: eles ouviram umas seis vezes seguidas, e pela determinação em atingir a perfeição na coreografia continuariam lá por um bom tempo. Foi ai que me vi obrigado a fazer algo para que eles parassem com isso. Medidas drásticas se faziam necessárias! Necessárias! Pensei em simular um incêndio, mas lembrei de um trocadilho que um deles tinha feito quando se queimou com cigarro: "Pode deixar queimar, eu já to fritando mesmo" e imaginei que ele pudesse repetir. Fui pra cozinha pensar com mais calma e lá, sim, pensei em algo que instauraria o pânico. Voltei pra sala e disse:

- A cerveja acabou!

O lugar ficou em silencio instantaneamente, todos me olharam como se eu tivesse dito que minha bolsa tinha estourado e o bebê estava nascendo. Foi uma correria pra achar a chave do carro e decidir quem iria comprar. Por fim, acabamos indo eu e mais dois amigos.

Sozinho no banco de trás, olhando para a rua, entrei numa trip de que eu estava dentro do Mario Kart, e sempre me via ultrapassado por vários competidores. Foi ai que eu gritei "sigam aquele cogumelo". Meus amigos no carro me olharam estranho, e não aceleraram, mesmo depois de eu ter alegado que se não corrêssemos mais não conseguiríamos sequer subir ao podium. Mantendo a velocidade chegamos ao supermercado, compramos duas caixas de cerveja e voltamos.

Chegando à casa, vieram comentar comigo sobre meu engano, porque ainda tinha pelo menos umas 20 latinhas no freezer. Fui colocar a cerveja pra gelar e reparei então na mesa da cozinha. Embaixo dela me pareceu ser um lugar bem aconchegante. Fui lá pra baixo e fiquei de frente com o microondas, e o relógio dele começou a me parecer um taxímetro bem econômico (ele variava bem pouquinho a cada um minuto), a cadeira começou a me parecer um taxista e eu olhei pro lado e vi muitas cores em movimentos, parecendo um daqueles chroma keys bem primitivos. Eis que me vejo novamente ultrapassado pelo Toad. Gritei pra acelerar, pois precisava alcançar e capturar ele, a princesa Cogumelo e qualquer outro personagem alucinógeno que me viesse à cabeça.

Não reparei no taxímetro, então não sei quanto tempo fiquei nessa perseguição, parei quando vieram me chamar pra assistir um filme na sala e, ao contrario do acervo musical, o de filmes era bem legal, eles tinham escolhido assistir "Homem Elefante", talvez para contrastar com a atmosfera colorida da noite. Já amanhecia, deitei e pensei em dormir, mas eu não conseguia, e inclusive eu estava acordado na cena em que perseguem o protagonista e um amigo meu resolveu cantar o "passo do elefantinho". Foi de extremo mau gosto, mas voltei a rolar de rir, e desisti de dormir. Hum, foi isso.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Vini e o Californication

Não é segredo nenhum que eu adoro falar de música. Muita gente se arrepende amargamente por ter puxado esse assunto, porque imediatamente após começar, eu perco aquele feeling básico de perceber quando estou agradando. É que me empolgo e acabo não notando que fiquei falando sobre determinada banda nos últimos 45 minutos - numa demonstração de fôlego muito rara para um asmático, como eu - e que isso não agrada a todos. Certa vez, uma amiga foi buscar água e só voltei a encontrá-la no final de semana seguinte. Como não estávamos numa daquelas comunidades do Nordeste em que as pessoas tem que caminhar horas para conseguir matar sua sede, presumi que ela fugiu de mim.

Por mais que esse seja um assunto que me agrada, não tenho vocação nenhuma pra resenhar cd’s, dar notas e tal. Então daqui pra frente vou contar minha relação com aquele que é, provavelmente, o cd que mudou minha vida (demorei anos pra aceitar isso) e arruinou meu último final de semana.

O Califonication do Red Hot Chili Peppers foi o primeiro cd de rock que eu tive. Uma camiseta com a capa dele foi a primeira camiseta de banda que eu tive, e o primeiro show de uma banda gringa que eu vi foi do RHCP. Portanto, dói aceitar, mas “Yankee Hotel Foxtrot” do Wilco, “Be a Girl” do Wannadies, “Grand Prix” do Teenage Fanclub e o primeiro do Big Star podem ser bem melhores que ele, porém, se não fosse o Californication, talvez eu nunca tivesse chegado a nenhum desses. Por muito tempo reneguei esse cd e passei anos sem escutar porque, pra minha ideologia dos 17/18 anos, era imperdoável escutar uma banda que conheci através da Jovem Pan e que, pra piorar, tinha pelo menos 4 hits. Além disso foi meu primo, que definitivamente não é um referencial de bom gosto, que me apresentou o CD. Enfim, várias heresias. Eu tinha que guardar esse meu passado bem escondido, e falar pra todo mundo que comecei a ouvir música com o Blue Album do Weezer.

O tempo foi passando e numa madrugada de ócio cheguei a um cd solo do John Frusciante. Logo em seguida, a uma foto dele sem camisa segurando um violão. Isso definitivamente me fez ver Red Hot com outros olhos (beeem abertos, diga-se de passagem). Foi um processo lento, mas aos poucos fui me libertando. Voltei a ouvir a banda, e a aceitação foi uma coisa natural. Hoje já acho um cd bem bacana e sempre que tenho vontade ouço,e não mais escondido, mantenho o plug-in do last fm e do MSN ligados.

Pronto, a trajetória já foi contada, agora só falta contar o motivos do meu final de semana ter sido arruinado. Numa conversa com um amigo, nos demos conta de que o Californication completou uma década esse ano. Ou seja, um cd que ouvi durante minha adolescência inteira já fez 10 anos! Nem minha calvície me fez sentir tão velho assim!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Vini e um texto amargo!

Se eu não soubesse tocar guitarra, hoje eu bem que poderia montar uma banda punk, tamanha a minha revolta com o mundo. Acordar cedo por si só já é suficiente para deixar um ser humano que não é dos mais esforçados, extremamente nervoso, mas contrariando o dito popular eu não fui ajudado por cedo madrugar. Então se preparem para um texto amargo!

Eu tenho um lado levemente sádico, que me faz sentir prazer sempre que presencio situações de sufoco num lugar confortável. E era exatamente o que eu estava fazendo, quando além da situação de sufoco, comecei a observar aquela sexagenária fofíssima, com cabelos bem grisalhos e cacheados, e umas bochechas rosadíssimas. Uma daquelas avozinhas que dão vontade de abraçar apertado (e só parar quando ela avisar que tem osteoporose). Eis que a imagem dela vai driblando o tumulto e estaciona bem em frente ao banco do vagão em que eu estava sentado. Foi quando me vi obrigado a ceder meu confortável lugar e me juntar ao tumulto.

Não vou ser hipócrita, tenho que admitir que sempre que faço uma boa ação, sou motivado por achar que o bem sempre retorna pra nós, e eu precisava com uma certa urgência que minha boa ação voltasse pra mim logo em seguida, mais exatamente na hora em que eu estava indo fazer uma prova de formação de preços. Não foi o que aconteceu, pois logo após me dar conta que eu não tinha matéria nem pra fazer uma colinha básica, eu também tinha esquecido a calculadora em casa - e infelizmente as pessoas não tem o hábito de sair por aí com duas calculadoras, pra poder emprestar uma (se bem que se existisse alguém assim, não sei se eu faria questão de socializar)

Mas eu ainda tinha uma esperança. Se a Bianca chegasse logo, ela sentava do meu lado e me passaria as contas já feitas. Vale explicar que nós sempre sentamos na frente nos dias de prova, porque os professores sempre focam a atenção nos alunos do fundo, e desconfiar quem alguém que senta na frente cola, é o mesmo que desconfiar que uma sexagenária amarga, daquelas que se você da qualquer festinha na sua casa já chamam a policia, investem num look que as deixam adoráveis, só para roubar lugares de jovens que estão desesperados com as provas que terão em seguida.

Mas como as coisas sempre podem piorar, o professor resolveu separar um dos grupinhos lá do fundão e colocou uma qualquer sentada no lugar que eu reservava para a Bianca - que chegou em seguida e foi obrigada a sentar longe de mim. Pensei então em apelar pra tática que sempre uso em casos como esse, como fingir um ataque epilético, mas eu estava de camiseta branca, e me debater no chão ia dar uma padronagem meio feia pra camiseta, então resolvi respirar fundo e me conformar com o zero já que eu estava sem ninguém por perto que tivesse um Q.I que me fizesse sentir minimamente confiante pra pedir resposta nem em uma prova da primeira série.

Quando tudo parecia perdido, a Bianca se levanta e vai entregar a prova, mas quando passou por mim deixou cair um papelzinho que continha as tão esperadas respostas da prova. E então eu fui feliz para sempre, ou melhor, até o dia seguinte, pois tive prova de Consultoria Organizacional, mas explicar essa já seria drama demais pra um texto só.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vini e o show do Radiohead

Primeiro post desse blog falando exclusivamente de música, talvez motivado por todos o shows que se confirmaram esse ano. E março que vem, com o show mais esperado por quem foi adolescente nos anos 90, show que já nem esperávamos mais ter no Brasil, show que já foi muito prometido, mas ultimamente não se especulava mais. Pois bem, os Backstreet Boys vem aí, mas como eles não estão mais no auge, vamos ignorar essa informação e falar de outro show que teremos nesse mesmo mês, o do Radiohead. Há uns 5 anos atrás, talvez por insegurança, me vi obrigado a gostar da banda, pra poder auto afirmar meu bom gosto musical e sofisticação. Com os cds do começo da carreira foi fácil, até hoje ainda adoro a "Just", mas quando passou do Kid A pra frente, a coisa ficou feia. Aqueles barulhos estranhos, que minha amiga e eu tentávamos imitar no telefone não me desciam de jeito nenhum, mas eu tinha que gostar da banda. Então me forçava a ouvir diariamente pra, quem sabe, me acostumar e poder ficar mais seguro e com a consciência mais tranqüila.

Como conseqüência, comecei a ter contato com as criaturas que percebi serem as mais chatas dessa e de outras 7 galáxias, os fãs de Radiohead (tá, eles saíram desse top assim que eu tive contato com os fãs de Sigur Ros). Conversar com essas pessoas foi libertador, resolvi sair do armário e assumir que não consigo gostar da banda. Graças a essa antipatia, eu senti a necessidade de comprar o ingresso pro show deles. Comecei a ver inúmeras possibilidades de me divertir no meio desse povo, a começar por saber que comprando um ingresso, automaticamente vou estar deixando um fã chato sem. Além do mais, o show vai ser em um domingo, então não vou ficar com peso na consciência por saber que perdi um capítulo de "Caminho das Indias" só pra ver a trupe de Thom Yorke.

Pra dar continuidade a diversão, farei questão de comentar que não gosto da banda, enquanto estiver na fila, e inventar que só estou lá pois meu tio cambista tinha me prometido entradas pro último jogo do São Paulo no Morumbi, e por ter vendido todas, me deu os ingressos pra se redimir. Já estou treinando meu grito pra pedir "a música do Carlinhos" e "Creep". Quando chegar a hora de "No Surprises" vou aproveitar que o som vai estar mais baixo e ligar pra minha amiga, e fofocar sobre tudo o que está acontecendo e comentar sobre as roupas dos presentes. Após a análise visual, vou esperar algum outro momento silencioso pra começar a chamar histericamente o John Greenwood de gostoso, além do velho e bom gritinho de auditório "lindo, tesão, bonito e gostosão".

Mesmo depois do show, ainda terei muitas chances de me divertir comentando com as pessoas que fui no show, e que achei legalzinho, mas que preferi o dos Backstreet Boys, porque além de cantar, eles dançam. Enfim, para os que vão, espero que se divirtam tanto quanto eu, e para os que se sentiram ofendidos, talvez tenha Wilco no Brasil, fica a dica se quiserem se vingar de mim.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Vini e os impulsos

Sabe quando seus instintos te dominam e suas vontades ocultas falam mais alto do que qualquer coisa que você possa ouvir?

Estávamos sentados no lugar habitual - como manda a cartilha de todo metódico, as mãos dadas mostravam toda nossa crescente intimidade. O que atrapalhava um pouco era aquela iluminação muito forte, que fazia questão de enfatizar tudo aquilo que o photoshop trabalhou muito pra esconder. Se por um lado isso era péssimo, por outro nos dava mais cumplicidade, pois nos colocava na mesma situação, lá estávamos nós dois com a cara (não-photoshopada) e a coragem, numa honestidade estética admirável.

Apesar de toda essa luz, o clima ficava cada vez mais agradável e convidativo, e as mãos continuavam juntas se acariciando, cada vez mais unidas e acostumadas uma com a presença da outra. Mas infelizmente todo esse momento foi quebrado graças a um carro que passou com o som altíssimo e quis incluir forçosamente uma trilha sonora pro nosso romancezinho, mas a música que diz "chupa que é de uva" não foi muito adequada. Ok, superamos isso e em pouco tempo conseguimos voltar ao nosso namorico a moda antiga.

Mão com mão, os olhos começavam a se encarar, mas a timidez me fez desviar bruscamente fazendo olhar para sua testa e fiquei assim por alguns instantes preciosos, voltamos a nos olhar nos olhos, mas novamente tive que olhar para outro lugar. Eis que dominado pelos meus instintos, me aproximo um pouco mais, coloco minhas mãos em seu rosto e com meus polegares firmes, pressiono aquele cravo que insistia em prender minha atenção.

A julgar pela expressão que vi nessa hora, a minha atitude quebrou mais o clima do que o carro com a música alta, mas nada que causasse muitos danos, pois tudo voltou ao normal e o que aconteceu na seqüência é assunto para outro post.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Vini e as piadas sem graça do destino

O humor negro é algo que me apetece de verdade. Piadas e comentários de gosto duvidoso, com pessoas ou acontecimentos que aos olhos da maioria não tem a menor graça, fazem parte do meu dia a dia. Super me divirto com pessoas que também são adeptas dele. O problema começa quando eu percebo que minha vida, destino ou qualquer outra entidade superior que me rege, também é apreciadora dessa arte, e resolve me fazer o personagem principal de suas piadinhas infames

Vamos aos fatos: Rafael me dá um pé na bunda e eu não consigo lidar muito bem com isso, o que nos levou, depois de diversos desejos sinceros de morte alheia e ofensas gritadas a plenos pulmões, a fazer um acordo de cavalheiros que consistia em nunca mais nos vermos nem pintado de ouro. Foi aí que as piadas começaram. Uma semana depois, tentando me recuperar do acontecido, marco com alguns amigos uma reuniãozinha para fazer aquelas coisas básicas depois de ter levado um fora: comer todas as guloseimas hiper-calóricas possíveis e praguejar recalcadamente sobre o ex. Para isso, passamos antes no Pão de Açúcar da Consolação para calibrar nosso estoque de doces e junkie food. O problema é que provavelmente o Rafa também teve essa idéia, e lá estávamos nós, no mesmo ambiente, quebrando o acordo que tínhamos civilizadamente firmado aos gritos. Graças a isso fui obrigado a comprar um pote extra de Nutella.

Passado um tempo, chega o tão esperado dia do show do Magic Numbers, e o fato de uma música da banda ter sido trilha sonora do nosso primeiro beijos não tem mais relevância nenhuma. Eu sabia que as chances de vê-lo por lá eram grandes. O que eu não esperava era, antes de começar o show, quando eu estava a caminho do banheiro, pisar no pé de um rapaz e, quando vou me desculpar, percebo que o rapaz em questão se tratava do melhor amigo do meu ex. E como não podia ser diferente, lá estava Rafael ao lado dele. Fiz o que qualquer pessoa normal faria no meu lugar: coloquei minhas mãos na cabeça e saí correndo e gritando desesperadamente. Mentira, eu continuei andando, cada vez mais rápido e com minhas pernas tremendo.

Um pensamento sempre me acompanha quando se trata de relacionamentos passados: o importante não é estar bem, e sim parecer bem para seu ex. O que não era o caso daquele final de tarde, após um dia inteiro debaixo de sol forte, andando muito, com roupas e tênis confortáveis e surradas, ou seja, um desastre. E quem eu encontro? Não, não foi meu ex ainda. Cruzo com um corpinho que encabeçava a lista de pessoas que eu queria consumir, o que diminuiu sensivelmente as chances da palavra "cruzar" ter um outro sentido mais biológico. Obviamente eu quis morrer, mas me confortei 15 minutos depois, quando me dei conta de que as coisas podiam ser piores. Avisto alguém com uma camiseta que me era familiar, com um jeito de andar que me era familiar, um rosto que me era familiar, uma fobia em me ver que me era familiar e um atual namorado que não me era nada familiar. E essa foi a última vez que nos vimos. Ele, por sorte (ou azar), conseguiu atravessar a rua sem ser atropelado, mesmo com o farol aberto e diversos carros passando, deixando bem claro o quanto ficou feliz ao me ver.

Comecei a escrever sobre esse assunto porque achei que as piadinhas já tinham se esgotado, ou que no mínimo aqui dentro de casa eu estaria seguro. Engano total: enquanto eu terminava de narrar esse meu drama, o shuffle do media player resolve tocar Magic Numbers. HA HA HA, piadista, hein?!