quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vini in the Wonderland

Eu ria, nossa, como eu ria! Sem motivo nenhum, talvez até mesmo um episódio das Visões de Raven me fizesse rir. Visto por um olhar sóbrio, isso tudo pode parecer constrangedor, mas como todos naquela casa estavam do mesmo jeito, eu não tinha do que me envergonhar.

Apesar dos pesares, tudo corria bem mas, como nessas situações o risco de shit happens é sempre iminente, algo horrivel aconteceu. Alguém decidiu colocar música, e como o acervo de CDs não era dos mais ricos, colocaram um da Beyonce e resolveram fazer um campeonato de imitação da coreografia de "Single Ladies". Fiquei só observando. Eu não gosto de Beyonce. É fato que quando eu discotecava, eu sempre tocava a versão que o Snow Patrol (quando Snow Patrol era legal) fez pra "Crazy in Love", e também fui até o chão no show do Magic Numbers quando eles fizeram esse cover. Mas isso não significa que algum dia eu gostei de Beyonce, no geral eu só não me incomodava em ouvir uma vez ou outra. O grande problema: eles ouviram umas seis vezes seguidas, e pela determinação em atingir a perfeição na coreografia continuariam lá por um bom tempo. Foi ai que me vi obrigado a fazer algo para que eles parassem com isso. Medidas drásticas se faziam necessárias! Necessárias! Pensei em simular um incêndio, mas lembrei de um trocadilho que um deles tinha feito quando se queimou com cigarro: "Pode deixar queimar, eu já to fritando mesmo" e imaginei que ele pudesse repetir. Fui pra cozinha pensar com mais calma e lá, sim, pensei em algo que instauraria o pânico. Voltei pra sala e disse:

- A cerveja acabou!

O lugar ficou em silencio instantaneamente, todos me olharam como se eu tivesse dito que minha bolsa tinha estourado e o bebê estava nascendo. Foi uma correria pra achar a chave do carro e decidir quem iria comprar. Por fim, acabamos indo eu e mais dois amigos.

Sozinho no banco de trás, olhando para a rua, entrei numa trip de que eu estava dentro do Mario Kart, e sempre me via ultrapassado por vários competidores. Foi ai que eu gritei "sigam aquele cogumelo". Meus amigos no carro me olharam estranho, e não aceleraram, mesmo depois de eu ter alegado que se não corrêssemos mais não conseguiríamos sequer subir ao podium. Mantendo a velocidade chegamos ao supermercado, compramos duas caixas de cerveja e voltamos.

Chegando à casa, vieram comentar comigo sobre meu engano, porque ainda tinha pelo menos umas 20 latinhas no freezer. Fui colocar a cerveja pra gelar e reparei então na mesa da cozinha. Embaixo dela me pareceu ser um lugar bem aconchegante. Fui lá pra baixo e fiquei de frente com o microondas, e o relógio dele começou a me parecer um taxímetro bem econômico (ele variava bem pouquinho a cada um minuto), a cadeira começou a me parecer um taxista e eu olhei pro lado e vi muitas cores em movimentos, parecendo um daqueles chroma keys bem primitivos. Eis que me vejo novamente ultrapassado pelo Toad. Gritei pra acelerar, pois precisava alcançar e capturar ele, a princesa Cogumelo e qualquer outro personagem alucinógeno que me viesse à cabeça.

Não reparei no taxímetro, então não sei quanto tempo fiquei nessa perseguição, parei quando vieram me chamar pra assistir um filme na sala e, ao contrario do acervo musical, o de filmes era bem legal, eles tinham escolhido assistir "Homem Elefante", talvez para contrastar com a atmosfera colorida da noite. Já amanhecia, deitei e pensei em dormir, mas eu não conseguia, e inclusive eu estava acordado na cena em que perseguem o protagonista e um amigo meu resolveu cantar o "passo do elefantinho". Foi de extremo mau gosto, mas voltei a rolar de rir, e desisti de dormir. Hum, foi isso.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Vini e o Californication

Não é segredo nenhum que eu adoro falar de música. Muita gente se arrepende amargamente por ter puxado esse assunto, porque imediatamente após começar, eu perco aquele feeling básico de perceber quando estou agradando. É que me empolgo e acabo não notando que fiquei falando sobre determinada banda nos últimos 45 minutos - numa demonstração de fôlego muito rara para um asmático, como eu - e que isso não agrada a todos. Certa vez, uma amiga foi buscar água e só voltei a encontrá-la no final de semana seguinte. Como não estávamos numa daquelas comunidades do Nordeste em que as pessoas tem que caminhar horas para conseguir matar sua sede, presumi que ela fugiu de mim.

Por mais que esse seja um assunto que me agrada, não tenho vocação nenhuma pra resenhar cd’s, dar notas e tal. Então daqui pra frente vou contar minha relação com aquele que é, provavelmente, o cd que mudou minha vida (demorei anos pra aceitar isso) e arruinou meu último final de semana.

O Califonication do Red Hot Chili Peppers foi o primeiro cd de rock que eu tive. Uma camiseta com a capa dele foi a primeira camiseta de banda que eu tive, e o primeiro show de uma banda gringa que eu vi foi do RHCP. Portanto, dói aceitar, mas “Yankee Hotel Foxtrot” do Wilco, “Be a Girl” do Wannadies, “Grand Prix” do Teenage Fanclub e o primeiro do Big Star podem ser bem melhores que ele, porém, se não fosse o Californication, talvez eu nunca tivesse chegado a nenhum desses. Por muito tempo reneguei esse cd e passei anos sem escutar porque, pra minha ideologia dos 17/18 anos, era imperdoável escutar uma banda que conheci através da Jovem Pan e que, pra piorar, tinha pelo menos 4 hits. Além disso foi meu primo, que definitivamente não é um referencial de bom gosto, que me apresentou o CD. Enfim, várias heresias. Eu tinha que guardar esse meu passado bem escondido, e falar pra todo mundo que comecei a ouvir música com o Blue Album do Weezer.

O tempo foi passando e numa madrugada de ócio cheguei a um cd solo do John Frusciante. Logo em seguida, a uma foto dele sem camisa segurando um violão. Isso definitivamente me fez ver Red Hot com outros olhos (beeem abertos, diga-se de passagem). Foi um processo lento, mas aos poucos fui me libertando. Voltei a ouvir a banda, e a aceitação foi uma coisa natural. Hoje já acho um cd bem bacana e sempre que tenho vontade ouço,e não mais escondido, mantenho o plug-in do last fm e do MSN ligados.

Pronto, a trajetória já foi contada, agora só falta contar o motivos do meu final de semana ter sido arruinado. Numa conversa com um amigo, nos demos conta de que o Californication completou uma década esse ano. Ou seja, um cd que ouvi durante minha adolescência inteira já fez 10 anos! Nem minha calvície me fez sentir tão velho assim!