quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Vini e os impulsos

Sabe quando seus instintos te dominam e suas vontades ocultas falam mais alto do que qualquer coisa que você possa ouvir?

Estávamos sentados no lugar habitual - como manda a cartilha de todo metódico, as mãos dadas mostravam toda nossa crescente intimidade. O que atrapalhava um pouco era aquela iluminação muito forte, que fazia questão de enfatizar tudo aquilo que o photoshop trabalhou muito pra esconder. Se por um lado isso era péssimo, por outro nos dava mais cumplicidade, pois nos colocava na mesma situação, lá estávamos nós dois com a cara (não-photoshopada) e a coragem, numa honestidade estética admirável.

Apesar de toda essa luz, o clima ficava cada vez mais agradável e convidativo, e as mãos continuavam juntas se acariciando, cada vez mais unidas e acostumadas uma com a presença da outra. Mas infelizmente todo esse momento foi quebrado graças a um carro que passou com o som altíssimo e quis incluir forçosamente uma trilha sonora pro nosso romancezinho, mas a música que diz "chupa que é de uva" não foi muito adequada. Ok, superamos isso e em pouco tempo conseguimos voltar ao nosso namorico a moda antiga.

Mão com mão, os olhos começavam a se encarar, mas a timidez me fez desviar bruscamente fazendo olhar para sua testa e fiquei assim por alguns instantes preciosos, voltamos a nos olhar nos olhos, mas novamente tive que olhar para outro lugar. Eis que dominado pelos meus instintos, me aproximo um pouco mais, coloco minhas mãos em seu rosto e com meus polegares firmes, pressiono aquele cravo que insistia em prender minha atenção.

A julgar pela expressão que vi nessa hora, a minha atitude quebrou mais o clima do que o carro com a música alta, mas nada que causasse muitos danos, pois tudo voltou ao normal e o que aconteceu na seqüência é assunto para outro post.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Vini e as piadas sem graça do destino

O humor negro é algo que me apetece de verdade. Piadas e comentários de gosto duvidoso, com pessoas ou acontecimentos que aos olhos da maioria não tem a menor graça, fazem parte do meu dia a dia. Super me divirto com pessoas que também são adeptas dele. O problema começa quando eu percebo que minha vida, destino ou qualquer outra entidade superior que me rege, também é apreciadora dessa arte, e resolve me fazer o personagem principal de suas piadinhas infames

Vamos aos fatos: Rafael me dá um pé na bunda e eu não consigo lidar muito bem com isso, o que nos levou, depois de diversos desejos sinceros de morte alheia e ofensas gritadas a plenos pulmões, a fazer um acordo de cavalheiros que consistia em nunca mais nos vermos nem pintado de ouro. Foi aí que as piadas começaram. Uma semana depois, tentando me recuperar do acontecido, marco com alguns amigos uma reuniãozinha para fazer aquelas coisas básicas depois de ter levado um fora: comer todas as guloseimas hiper-calóricas possíveis e praguejar recalcadamente sobre o ex. Para isso, passamos antes no Pão de Açúcar da Consolação para calibrar nosso estoque de doces e junkie food. O problema é que provavelmente o Rafa também teve essa idéia, e lá estávamos nós, no mesmo ambiente, quebrando o acordo que tínhamos civilizadamente firmado aos gritos. Graças a isso fui obrigado a comprar um pote extra de Nutella.

Passado um tempo, chega o tão esperado dia do show do Magic Numbers, e o fato de uma música da banda ter sido trilha sonora do nosso primeiro beijos não tem mais relevância nenhuma. Eu sabia que as chances de vê-lo por lá eram grandes. O que eu não esperava era, antes de começar o show, quando eu estava a caminho do banheiro, pisar no pé de um rapaz e, quando vou me desculpar, percebo que o rapaz em questão se tratava do melhor amigo do meu ex. E como não podia ser diferente, lá estava Rafael ao lado dele. Fiz o que qualquer pessoa normal faria no meu lugar: coloquei minhas mãos na cabeça e saí correndo e gritando desesperadamente. Mentira, eu continuei andando, cada vez mais rápido e com minhas pernas tremendo.

Um pensamento sempre me acompanha quando se trata de relacionamentos passados: o importante não é estar bem, e sim parecer bem para seu ex. O que não era o caso daquele final de tarde, após um dia inteiro debaixo de sol forte, andando muito, com roupas e tênis confortáveis e surradas, ou seja, um desastre. E quem eu encontro? Não, não foi meu ex ainda. Cruzo com um corpinho que encabeçava a lista de pessoas que eu queria consumir, o que diminuiu sensivelmente as chances da palavra "cruzar" ter um outro sentido mais biológico. Obviamente eu quis morrer, mas me confortei 15 minutos depois, quando me dei conta de que as coisas podiam ser piores. Avisto alguém com uma camiseta que me era familiar, com um jeito de andar que me era familiar, um rosto que me era familiar, uma fobia em me ver que me era familiar e um atual namorado que não me era nada familiar. E essa foi a última vez que nos vimos. Ele, por sorte (ou azar), conseguiu atravessar a rua sem ser atropelado, mesmo com o farol aberto e diversos carros passando, deixando bem claro o quanto ficou feliz ao me ver.

Comecei a escrever sobre esse assunto porque achei que as piadinhas já tinham se esgotado, ou que no mínimo aqui dentro de casa eu estaria seguro. Engano total: enquanto eu terminava de narrar esse meu drama, o shuffle do media player resolve tocar Magic Numbers. HA HA HA, piadista, hein?!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Vini, wilco, a senhora da fila e os trombadinhas

E lá estava eu, esperando uma amiga há alguns minutos, meio atordoado com tanto movimento, mas conseguia me distrair porque no fone de ouvido tocava Wilco, e Wilco definitivamente me distrai, ao ponto de eu começar a cantar e as pessoas ao redor me olharem estranho. Mas esse é um hábito que já tenho aprendido a controlar, e agora no máximo fico batendo os pés - não no ritmo da música, porque isso é uma coisa que me falta, mas eu super me esforço pra acompanhar.

O tempo passava e além da música eu começo a me distrair com as figuras que por lá passavam, e quando percebo, estou prestando atenção em uma senhora de meia idade bem acabadinha, que parecia muito estressada com a fila para comprar bilhete. Achei legal sua impaciência por provavelmente estar atrasada. Seu nervosismo era ignorado por todos que estavam na sua frente, como as pessoas que pegavam seu troco calmamente, não se preocupando em sair da fila e deixar o próximo comprar o bilhete. No momento eu ouvia "A Shot In The Arm" e a música praticamente entrou como trilha sonora pra cena que eu via. Foi quando me dei conta: "merda, vou sempre associar essa música a mulher impaciente na fila pra comprar um bilhete de metrô".

Sempre tive o costume a associar músicas às pessoas, e aos momentos que vivi com elas, sendo eles bons ou não. Ultimamente eu ando evitando relacionar minhas músicas e bandas preferidas a relacionamentos que envolvem o risco da pessoa me chutar, afinal, além de perder um namoro eu seria obrigado a renunciar a música também, porque sempre que eu a ouvisse, me viriam lembranças do fora e de como tudo foi difícil Depois de pensar nisso fiquei aliviado em saber que podia ficar tranqüilo, porque apesar de me lembrar dessa mulher sempre que ouvisse a música, definitivamente não havia o risco de ela me magoar. Então poderia ouvir "A Shot In The Arm" sem maiores danos.

Passado um tempo, eu já comecei a me preocupar com o atraso da minha amiga e resolvi ligar pra ela e ver o que acontecia. É que existe um tratado entre nós que diz o seguinte: quem está atrasado é que paga a ligação; portanto, eu daria um toque no celular dela, ela não atenderia e me ligaria em seguida. Mas ela atendeu, e além de estar atrasada ela ainda me fez gastar meus créditos. Fiquei levemente irritado e abstraí. Ela me falou que demoraria mais uns 15 minutos e a conversa se estendeu, e novamente me distraí, ao ponto de não reparar que o movimento onde eu estava havia ficado mais intenso, inclusive o movimento de trombadinhas, que passaram rapidamente por mim e levaram meu celular. Sorte que eu não estava ouvindo nenhuma música nessa hora.

Meus reflexos super ágeis me fizeram perceber o que tinha acontecido um minuto depois e, a julgar pela velocidade do meu reflexo, achei que não adiantava ir atrás dos meninos. Depois disso, minha raiva por ter gasto meus créditos já não existia mais. Então no fundo, a atitude dos meninos foi válida, me impediram de cultivar o rancor por essa minha amiga tão querida e impontual.

Alguns minutos depois, lá estava eu, com minha amiga e sem meu celular. Nos cumprimentamos como sempre, imitando a cena final do Casablanca e fomos de encontro ao nosso destino em mais um safári urbano, tão comum em nossa vida.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Vini e a busca por explicações

Desde pequeno tenho uns pequenos TOC's com os quais sempre convivi bem. Como os que me faziam acreditar que, quando eu escrevia as matérias da escola, se eu não conseguisse terminar a frase antes de virar a folha do caderno, algo de grave - que eu nunca soube ao certo o que era - poderia acontecer. Graças a isso, meus cadernos nunca primaram pelo capricho; além da letra feia as páginas eram escritas nas bordas e com letras que diminuiam e se expremiam a medida que o final da folha se aproximava.

Mais recentemente, algo sempre me obriga a olhar para o rio Tietê e contar até dez, quando passo por cima dele de trem. Provavelmente as pessoas ao redor devem estranhar o fato de alguém fazer tanta questão de contemplar tão maravilhoso manancial, que perfuma a cidade. A velha e boa vergonha alheia também me fazia acreditar que coisas não muito boas viriam ao meu encontro, se eu não mudasse de canal naquele momento e só voltasse pra lá assim que a cena tivesse acabado. Mas eu também não podia trapacear e deixar definitivamente em outro canal, pois poderia ser considerado trapaça, então eu tinha que desenvolver todo um cálculo, o mais preciso possível. Isso gerou algumas brigas com as pessoas que faziam questão de assistir, e que não entenderiam caso eu explicasse; mas eu persisti, afinal precisava prezar pela minha integridade, e levar um soco de quem queria ver a cena era um preço a ser pago.

Agora algo não sai da minha cabeça: será que alguma vez eu não percebi e interrompi alguma frase no meio, ou será que contei errado os segundos olhando para o rio, ou pior, trapaceei deixando tempo demais em outro canal e agora estou sendo fortemente penalizado por isso? Juro que se fiz isso, não foi de propósito, mas isso não deve ser atenuante, e eu devia ter tomado mais cuidado com essas coisas, pois sabia que meus pressentimentos não eram em vão. Mas sei lá, tenho muito medo mesmo do que, daqui pra frente, eu posso me tornar. Não me vejo sendo um entusiasta da vida pregando as coisas boas dela, ou falando sobre aproveitar até o último momento, fazendo roteiros para palestras motivacionais e usando de todos aqueles clichês que universitários geração saúde adoram. Nem me vejo mais como um maníaco-depressivo que fala que é uma porcaria viver e que não vale a pena e tals, não tenho mais franja pra isso. Tudo isso já tá muito démodé.Enfim, vou me esforçar ao máximo para fugir desses extremos.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Vini e os mal entendidos

Alguns fatos recentes me fizeram ficar preocupado com uma questão que eu já nem ligava mais: a imagem que meus pais tem de mim. Comecei a pensar nisso graças a uma série de acontecimentos que, somados, não devem ter tido um resultado muito bom. Mas o pior de tudo é que fui inocente em todos! Vamos aos fatos.

Certa vez, lutando contra o sedentarismo, eu e uns amigos andávamos pelas imediações da rua da Consolação, quando fomos abordados por um profissional da área de publicidade que nos entregou um cartão que continha os seguintes dizeres: "depilação para homens, feita por homens". Achei engraçado e tal, mas em nenhum momento passou pela minha cabeça utilizar desses serviços. Guardei o cartão no bolso para jogá-lo na próxima lixeira, mas infelizmente acabei esquecendo, e só fui me lembrar uns dias depois, quando minha mãe foi lavar minha calça e deixou o cartão em cima da estante.

Um tempo depois, numa tarde super produtiva eu cochilava em meu quarto, quando escuto de longe uma música do Splitsville, e imaginei que fosse uma ilusão auditiva. Afinal, Franco da Rocha é uma cidade composta por domésticas e pedreiros que ouvem música em seus radinhos de pilha, ou então por boys com seus carros populares tunados que ouvem black music no último volume. Portanto, impossível algum vizinho meu estar ouvindo Splitsville (se fosse Klaxons, Arctic Monkeys e tal tudo bem, mas estamos falando de Splitsville). Segundos depois descubro que a música vinha da sala, de um filme que passava na sessão da tarde, que meus pais, numa tarde tão produtiva quanto a minha, assistiam. Corro pra ver que filme era, e chego bem na cena em que o protagonista corre pela quadra da escola com a bunda pra fora. Pensei em explicar para meus pais, mas achei que eles não acreditariam que fui com tanta empolgação para a sala por causa de uma música.

Agora o fato derradeiro, que me fez voltar a pensar em tudo isso: semana passada, cheio de trabalhos da faculdade, eu recebo de uma amiga, parte de um exercício de contabilidade com o título "ativo/passivo", e esqueço ele no Desktop. No dia seguinte vou procurá-lo e descubro que ele foi parar na lixeira.

Depois disso tudo tenho certeza que meus pais não me acham nem um aluno dedicado, muito menos uma pessoa apaixonada pela música ou com consciência ambiental, mas juro que pelo menos nesses três casos eu fui inocente!

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Vini e os terríveis hamsters carnívoros

Alguns anos atrás, meus pais, desiludidos com a falta de capacidade minha e do meu irmão em cuidarmos de cachorros, se negaram a nos dar mais um pequeno filhote de Fila. Nós queríamos e precisávamos muito de um novo bichinho de estimação, mas eles se recusavam a nos presentear com o que pedimos. Negociamos, negociamos, fomos diminuindo gradativamente, até que eles propuseram nos dar um pintcher. Não aceitamos, pois já tínhamos cinco. Continuamos as negociações por algumas horas e eles propuseram então um hamster. Pensamos, pensamos e concluímos que estava na hora de fechar o negocio e aceitar o que foi oferecido.

No dia seguinte, chego da escola e lá está a gaiola com dois hamsters lindos, fofos e doces. Brincamos o dia todo com eles, mas chegou a hora de dormir. Esquecemos a gaiola aberta e eles fugiram. O choro tomou conta da casa quando percebemos, mas o tempo pro drama estava esgotado e fomos para a escola novamente, e quando voltamos estava na gaiola aquela que, segundo o dono do pet shop, era a mãe dos hamsters que fugiram.

Ficamos felizes novamente, brincamos muito e dessa vez não esquecemos a gaiola aberta. Um tempo depois reparamos que nosso novo bichinho de estimação estava um pouco gordo, e a cada dia ela engordava mais, pensei comigo: "Sou um dono competente, e ela está engordando tanto porque é bem alimentada". Até que um dia fui trata-la e noto que ela estava bem mais magra. Olho então dentro da casinha, que a essa altura hospedava pelo menos uns 20 filhotes, seres pelados, vermelhos pequenos, um horror! Mas sabíamos que em breve eles cresceriam e teríamos mais 20 coisinhas fofas brincando em suas rodinhas e nos divertindo por horas. E foi isso, decidimos ficar com os 15 filhotinhos sobreviventes pra nós. Compramos uma gaiola maior, e deixamos os pequenos e adoráveis hamsters lá.

Mas o tempo foi passando, e aquelas figuras fofinhas e adoráveis não nos apeteciam mais como antes, e aos poucos fomos esquecendo deles,inclusive de alimenta-los. Eis que Tomate, o hamster, resolve morrer de fome, e os outros tomados pelo instinto de sobrevivência resolvem devorá-lo. A cena de Tomate parcialmente devorado mexeu profundamente comigo e gritei "they'll never be hungry again". Decidi que trataria deles todo dia e que eles teriam a gaiola de hamster mais limpa de todo o mundo. Mas já era tarde, aquelas criaturas fofinhas e adoráveis haviam se tornado seres terríveis e carnívoros, e não queriam mais saber de girassol nem de ração, e sim da minha mão que os alimentavam. Eles vinham vorazmente me atacar

Os Hamsters queriam carne, e como eu me recusava a incluir esse alimentos em sua dieta, eles mesmos providenciavam e toda semana apareciam pelo menos dois deles mortos na gaiola, o que gerava mais mordidas nas minhas mãos quando eu ia resgatar os corpos. E foi assim gradativamente, até restarem apenas 4, que certa noite foram atacados por um gato que deixou a gaiola vazia.

Foi ai que tive que dar razão pra minha mãe quando ela não quis nos dar um Fila. Já imaginaram se ele vira um animal carnívoro que ataca minha mão sempre que eu fosse tratá-lo? Provavelmente eu não estaria aqui digitando essas palavras hoje.

...

E foi dado o primeiro passo para o fim desse blog