terça-feira, 13 de maio de 2008

Vini, wilco, a senhora da fila e os trombadinhas

E lá estava eu, esperando uma amiga há alguns minutos, meio atordoado com tanto movimento, mas conseguia me distrair porque no fone de ouvido tocava Wilco, e Wilco definitivamente me distrai, ao ponto de eu começar a cantar e as pessoas ao redor me olharem estranho. Mas esse é um hábito que já tenho aprendido a controlar, e agora no máximo fico batendo os pés - não no ritmo da música, porque isso é uma coisa que me falta, mas eu super me esforço pra acompanhar.

O tempo passava e além da música eu começo a me distrair com as figuras que por lá passavam, e quando percebo, estou prestando atenção em uma senhora de meia idade bem acabadinha, que parecia muito estressada com a fila para comprar bilhete. Achei legal sua impaciência por provavelmente estar atrasada. Seu nervosismo era ignorado por todos que estavam na sua frente, como as pessoas que pegavam seu troco calmamente, não se preocupando em sair da fila e deixar o próximo comprar o bilhete. No momento eu ouvia "A Shot In The Arm" e a música praticamente entrou como trilha sonora pra cena que eu via. Foi quando me dei conta: "merda, vou sempre associar essa música a mulher impaciente na fila pra comprar um bilhete de metrô".

Sempre tive o costume a associar músicas às pessoas, e aos momentos que vivi com elas, sendo eles bons ou não. Ultimamente eu ando evitando relacionar minhas músicas e bandas preferidas a relacionamentos que envolvem o risco da pessoa me chutar, afinal, além de perder um namoro eu seria obrigado a renunciar a música também, porque sempre que eu a ouvisse, me viriam lembranças do fora e de como tudo foi difícil Depois de pensar nisso fiquei aliviado em saber que podia ficar tranqüilo, porque apesar de me lembrar dessa mulher sempre que ouvisse a música, definitivamente não havia o risco de ela me magoar. Então poderia ouvir "A Shot In The Arm" sem maiores danos.

Passado um tempo, eu já comecei a me preocupar com o atraso da minha amiga e resolvi ligar pra ela e ver o que acontecia. É que existe um tratado entre nós que diz o seguinte: quem está atrasado é que paga a ligação; portanto, eu daria um toque no celular dela, ela não atenderia e me ligaria em seguida. Mas ela atendeu, e além de estar atrasada ela ainda me fez gastar meus créditos. Fiquei levemente irritado e abstraí. Ela me falou que demoraria mais uns 15 minutos e a conversa se estendeu, e novamente me distraí, ao ponto de não reparar que o movimento onde eu estava havia ficado mais intenso, inclusive o movimento de trombadinhas, que passaram rapidamente por mim e levaram meu celular. Sorte que eu não estava ouvindo nenhuma música nessa hora.

Meus reflexos super ágeis me fizeram perceber o que tinha acontecido um minuto depois e, a julgar pela velocidade do meu reflexo, achei que não adiantava ir atrás dos meninos. Depois disso, minha raiva por ter gasto meus créditos já não existia mais. Então no fundo, a atitude dos meninos foi válida, me impediram de cultivar o rancor por essa minha amiga tão querida e impontual.

Alguns minutos depois, lá estava eu, com minha amiga e sem meu celular. Nos cumprimentamos como sempre, imitando a cena final do Casablanca e fomos de encontro ao nosso destino em mais um safári urbano, tão comum em nossa vida.